segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O Santo e o Estudante

Nos dias de prova, o certo é que minha mãe acendia uma vela para Santa Rita e eu colocava um “santinho” no bolso da camisa da farda. O santo era São Domingos Sávio.Coitado, botava a culpa nele sempre que tirava notas baixas. Minha mãe insistia em dizer que eu não havia rezado direito para o santo. Desde pequeno, era costume rezar antes e durante as provas.Fui um aluno regular a médio – significava que não tinha muita variação – era mesmo na média, o suficiente para passar de ano. Sempre estudei em vésperas de provas. Isso era ruim, mas confiava no Santo porque acreditava que não me deixaria na mão.Eu e São Domingos Sávio fomos sócios por um bom tempo. Freqüentamos as mesmas carteiras e nunca fomos reprovados. Passamos por Bohêmia Marinho, Maíta Curvelo, Professora Zirinha, Lêda Sampaio, Avani Mattos, Deusdinéa Luz, Getulina Carvalho, Stela Schettini, Glorinha Macêdo, Miriam Mascarenhas e Lia Paradela, todas no primário. Interessante, não havia homens ensinando no primário naquela época.O que estudamos deu para fugir das palmatórias. Ajoelhar em milho já não existia mais. Pegamos uns castigos de escrever a mesma frase mil vezes, do tipo “Não devo desobedecer a minha professora”. Tanta escrita que o Santo, nessa hora, não fazia a parte dele. Dizia que era a minha vez de treinar a caligrafia.O primário passou e fui cursar o ginásio. Na companhia do pessoal mais velho, não “colava” mais essa história de santo no bolso da camisa. A vela ainda ficava acesa, mas escondia o santo na carteira ou dentro do caderno.Depois, no vestibular, o negócio era estudar ou estudar. Fui para o “cursinho” reforçar a minha base e deixei de culpar o pobre santo.Com ou sem ele, o certo é que construí uma base educacional com interesse e dedicação. Melhor ainda porque os meus professores foram imbuídos na formação de cidadãos. As escolas não faziam diferenciações sociais e os princípios morais e éticos eram respeitados. Alunos e professores faziam as suas partes.Eu agradeço a educação que recebi dos meus mestres professores poçõenses, inclusive aqueles do ginásio e que sempre cito nas colunas. Sem eles, não teria a capacidade de desenvolvimento mental, intelectual, social e profissional, principalmente.Minha velha tia italiana, Miminna, de 97 anos, surda, mesmo sem nunca ter arredado o pé da sua cidade natal, diz que “o mundo mudou, porém os professores são os mesmos”. Uma verdade que deve ser sempre reavaliada e que mostra toda a importância e responsabilidade da classe.Mas não posso deixar de revelar dois segredos: Na dúvida entre a minha capacidade e a do santo, ainda tenho a mania de carregar um “santinho” no bolso. Fui conferir ali na carteira e tem o de Santa Edwiges, que me foi dado pela professora Heloísa Curvelo, há mais de 12 anos. Meio supersticioso, não sei bem a hora que devo trocar um santo por outro mais novo. Enquanto isso, Edwiges já está toda desgastada mas é minha sócia e consultora nas questões de dinheiro.O segundo segredo, é que continuo rezando a oração de São Domingos Sávio: “Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarde, me governe, me ilumine”.Essa coluna é dedicada a todos os professores de Poções. Parabéns pelo seu dia.Um grande abraço,Lulu

Sangiovanniluiz.sangiovanni@gmail.com
Luiz Sangiovanni
Publicado no Recanto das Letras em 08/10/2007Código do texto: T686347

Um comentário:

Sindicato dos Professores disse...

Lulu, carinhosamente, fez esta homenagem aos professores de Poções. Ele citou os nomes daqueles que foram importantes na sua formação, mas nós todos que ainda estamos na luta nos sentimos homenageados. Esperamos que, no futuro, os nossos alunos tenham motivos para lembrar das nossas aulas com carinho e agradecimento. Abraço a todos e todas que dedicam a sua vida a esta profissão. E a nossa luta é para que, um dia, possamos ter a nossa profissão reconhecida pela importância que tem na formação de cidadãos e que sejamos recompesandos por isso com um salário digno e com melhores condições de trablaho. Parabéns, professor pelo seu dia. Que tenhamos sempre motivos apra comemorar!